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E quando a vida desaba?


É muito angustiante ter um plano de vida que não se realiza. Já parou para entender o que atua por trás dessa não-realização?


Começa assim: Queremos algo. E lá vamos nós, erguendo tijolo por tijolo da nossa estrutura idealizada. Tempo, energia, esforço, intenção… Tudo isso para erguer cada vez mais alto e forte um espaço habitável para nosso ser.


Vamos nos identificando e sentindo cada etapa desse processo com a confiança de que os fins justificam os meios. Os sonhos até que vão criando forma – aquele trabalho ou aumento se tornam mais próximos; aquela relação começa a se estreitar; aquele objetivo torna-se cada vez mais tangível. A alegria e contentamento de acreditar que “dessa vez vai, não teria outro jeito!”.



E aí poof – a vida se desdobra e aquilo simplesmente nunca será como imaginamos. De uma forma escancarada e ainda assim inacreditável, o sonho cai em ruínas e nada fica no lugar.


Nos questionamos doloridas: “E agora? É isso mesmo?! Foi tudo em vão? E tudo o que eu investi pra fazer dar certo?” e a vida estranha e friamente não responde. Dá raiva, mágoa, tristeza, apatia, negação, prejuízo. E ainda assim, o silêncio segue corroendo a busca por respostas. Tudo parece feio e caótico. E então uma única alternativa começa a florescer dentre as ruínas: ouvir o silêncio, cavar as respostas dentro da voz inaudível da própria experiência.

Talvez o grande objetivo que estava sendo mirado começou a nos ilhar e nem percebemos. Estávamos tão absurdamente entregues a construir uma meta que nem notamos o quanto estivemos ausentes de nós. Como um claustro se erguendo ao nosso redor, nem percebemos a soberba e privação que nosso objeto de desejo trazia, nos isolando da nossa essência e desrespeitando qualquer nova forma de perceber a nós mesmos.


Perseguir um objetivo muitas vezes é uma cegueira que só se descobre quando o destino fatalmente intervém e nos obriga a ver que tentamos aprisionar nossa liberdade e alma para alguma conquista.


A voz do silêncio nos conta então que aquele trabalho nos fazia ignorar nosso afeto e presença com as pessoas queridas; ou que aquela relação era tão absurdamente custosa que estávamos moldando uma nova forma de desejar e expressar o amor para nos manter ali; ou que aquela certeza absoluta tornou-se fanatismo; ou que onde quer que queríamos chegar era uma fuga da nossa própria história.

E nesse processo absurdamente denso e dolorido, começamos a perceber que a vida não nos tirou o que estávamos construindo – mas apenas libertou tudo o que foi sendo aprisionado de mais fundamental à nossa essência e crescimento; mesmo que para isso precise derrubar o “claustro”, que ironicamente foi erguido na vã tentativa de nutrir a alma.


Se algo não “deu certo”, questione a si mesma: quais aspectos da sua vida estavam sedentos e esquecidos, e finalmente foram liberados?

Com toda dissolução, há uma fonte de liberdade que se abre. Por trás de toda certeza absoluta, há um limite que amordaça a liberdade. Na recusa de aceitar que os claustros não vão se manter pra sempre erguidos, há a negação da voz da alma.


Essa é a experiência da Torre no Tarot. E ela só desaba aquilo que não pode se manter.


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